Por Hugo Bethlem
Sustentabilidade ambiental é um tema fundamentalmente econômico, mas também tem um impacto vital para a vida na Terra.
Imagine que toda a humanidade é uma grande empresa. Todos os colaboradores dessa empresa são pessoas e, se não cuidarmos delas, não teremos negócio.
Os pré-requisitos para que os negócios aconteçam, ou seja, para a sobrevivência dos seres humanos, são: água potável, ar respirável e comida saudável, sendo a emissão de gases poluentes o grande risco para essa empresa. Zerar as emissões de carbono dos negócios, assim como das empresas de transporte de cargas, é uma missão que ganha cada vez mais urgência.
O site CredCarbo contribui para o debate, reforçando que “a crescente conscientização sobre as mudanças climáticas tem gerado uma busca incessante por soluções que abordem as emissões de gases de efeito estufa (GEE) provenientes de diversas atividades humanas. Nesse cenário, os créditos de carbono emergem como uma abordagem inovadora e vital.
Em essência, os créditos de carbono representam uma medida quantificável das emissões de dióxido de carbono e outros gases que contribuem para o aquecimento global. Empresas ou organizações que conseguem reduzir suas emissões abaixo de um nível preestabelecido recebem créditos de carbono, que podem ser negociados no mercado. Por outro lado, as entidades que não conseguem cumprir suas metas de emissões podem adquirir esses créditos, possibilitando um sistema de trocas que incentiva a redução coletiva de emissões.
O transporte tem um papel importante nas emissões globais de gases que contribuem para o efeito estufa, como o dióxido de carbono (CO2), os óxidos de nitrogênio (NOx) e as partículas suspensas. Essas emissões decorrem principalmente da queima de combustíveis fósseis em veículos movidos a gasolina e diesel. Essas emissões contribuem diretamente para o aumento do efeito estufa, levando ao aquecimento global e às mudanças climáticas.
Além disso, o transporte rodoviário, aéreo e marítimo também tem impactos negativos na qualidade do ar devido às emissões de poluentes atmosféricos, como o material particulado e o ozônio troposférico. Para mitigar esses impactos, é crucial promover a transição para formas de transporte mais sustentáveis, como veículos elétricos e a utilização de fontes de energia renovável”.
O aquecimento global e seus impactos devastadores nas Mudanças Climáticas são reais e não podem ser desprezados. Esse último ano tivemos a média mais quente de temperatura global desde a pré-industrialização, além da temperatura média mais quente dos oceanos. Se nosso objetivo de sobrevivência é não permitirmos que a temperatura média do planeta suba 1,5 ºC até 2050, em comparação à pré-industrialização já estamos devendo, pois já chegamos a +1,77ºC. Vamos ter que regredir, pois apenas frear o avanço já não será suficiente.
É preciso destacar que sustentabilidade ambiental é, antes de tudo, um problema ambiental global, crítico e urgente.
“No entanto, a história mostra que problemas coletivos cujas soluções demandam ações individuais são resolvidos efetiva e fundamentalmente por meio de instrumentos econômicos que impõem à condição de “não fazer nada” um custo maior do que o custo de “fazer alguma coisa”. Esse é o princípio por trás das regulações em todo o mundo, inclusive no Brasil.” – Rafael Fanchini – founder e CEO da Verda.
O tema tem sido uma preocupação diária em várias companhias brasileiras, de todos os setores, mas entre ser uma preocupação e fazer algo a respeito tem uma enorme diferença.
As pressões vêm de todos os lados, desde colaboradores engajados e das novas gerações, clientes, conselhos, agentes reguladores, bancos, agências de rating, bolsa de valores. Não dá para não agir, muito menos ignorar. É fato que as empresas, em todo o Brasil e no mundo, devem assumir a sua responsabilidade no combate ao problema das mudanças climáticas.
Tenho escrito e dito que as empresas terão que implantar e praticar os pilares do ESG por um dos três Cs: Convicção, Compliance ou Constrangimento. Um mais caro que o outro, em investimento e principalmente em reputação. Gostaria que as decisões fossem por Convicção e, inclusive, algumas empresas líderes e protagonistas até estão trilhando este caminho e deveriam ser copiadas, afinal essa não é uma questão competitiva, mas sim cooperativa.
Entretanto, muitas empresas farão o movimento por Compliance, para isso o projeto de lei 2148/2015 que estabelece o Mercado Brasileiro de Redução de Emissões. Aprovado em dezembro pela Câmara dos Deputados e agora em análise pelo Senado Federal, o objetivo é contribuir para efetivas iniciativas no combate às mudanças climáticas no Brasil. Pode não ser perfeita, mas será muito útil e necessária.
O desafio
A Comissão de Valores Mobiliários (CVM) aprovou em outubro do ano passado a Resolução 193 que dispõe sobre a elaboração e divulgação do relatório de informações financeiras relacionadas a sustentabilidade ambiental, que tem como base as normas IFRS S1 e S2 publicadas pelo International Sustainability Standards Board – ISSB.
Pode não ser perfeito, poderíamos ter adotado European Sustainability Reporting Standards – ESRS bem mais amplo e avançado, mas, melhor feito do que perfeito. Com base nessa resolução, as empresas de capital aberto serão obrigadas a publicar tal relatório, assegurado por auditor independente, a partir de 1 de janeiro de 2026.
O grande desafio, que a maioria das empresas ainda não tem respostas claras e economicamente viáveis é a transição para descarbonização da economia até, no máximo, 2050. Lembramos que Sustentabilidade é um conjunto de ideias, estratégias e demais atitudes ecologicamente corretas, economicamente viáveis, socialmente justas e culturalmente diversas.
É a capacidade de uso dos recursos naturais sem comprometer o bem-estar das gerações futuras.
Para que o Brasil alcance a condição “net zero” até 2050 – leia-se o conjunto das empresas que operam no Brasil, mais o Agrobusiness –, a forma como as empresas operam vai ter de mudar radicalmente. Sendo objetivo, as empresas que operam no país vão precisar “zerar” suas emissões de gases de efeito estufa na atmosfera.
Trata-se de um processo profundo de substituição tecnológica a ser implementado por todos os setores da economia, com impactos em toda economia e processos produtivos. E sim, isso vai demandar uma quantidade enorme de capital para que todas as empresas se adequem à inevitável realidade que está chegando.
De onde virão os recursos, que não serão poucos? Alguma pequena parcela virá dos incentivos governamentais, até por uma questão de competição externa, mas não nos enganemos: o grande montante deverá vir das próprias empresas, de como elas geram o seu lucro e de quanto vão investir para continuar gerando lucro, pois afinal, sem pessoas e sem planeta, não há business e muito menos lucro.
Um dos segmentos econômicos mais importantes da economia, o transporte de carga, tem uma responsabilidade importante sobre o desafio e, consequentemente, sobre a solução. No Brasil, trata-se da quarta atividade econômica que mais emite gases de efeito estufa na atmosfera.
O segmento do transporte de carga é um dos mais pujantes e importantes da economia brasileira, com dimensões continentais em estradas precárias. Ligam todo território brasileiro levando todo tipo de produtos a quem precisa, incrementando o comércio e gerando riqueza e bem-estar.
Sem o setor de transporte de cargas, o Brasil não seria uma potência emergente. No Brasil, ao mesmo tempo que presta um serviço relevante e indispensável, também é a quarta atividade econômica que mais emite gases de efeito estufa na atmosfera.
Porém, essa não pode ser uma responsabilidade apenas atribuída ao setor de transporte de carga, deve ser compartilhada e também assumida em boa parte pelos embarcadores, ou seja, os contratantes das empresas de transporte de carga para, zerar as emissões de carbono do escopo 3 (que são as emissões de gases de efeito estufa originadas de operações comerciais por fontes que não são de propriedade ou controladas diretamente por uma organização, como cadeia de suprimentos, transporte, uso ou descarte de produtos).
Voltamos a falar da visão cooperativa ao invés de competitiva. Com isso, o setor embarcador está começando a se movimentar para contribuir com a solução do problema. Um aspecto notável é que uma parte considerável dos planos de descarbonização dos embarcadores depende da descarbonização dos seus provedores de transporte. Essa é a origem das crescentes pressões percebidas pelos operadores de transporte no sentido de reduzirem suas pegadas de carbono. Ou seja, estamos falando de economia circular e de “causa e efeito”.
Os Objetivos de Desenvolvimento Sustentável da agenda 2030 da ONU existem por consequência de nossas atitudes do passado (e ainda, em muitos casos, do presente), focadas no paradigma Escassez X Egocentrismo.
Os principais desafios ambientais e sociais que conhecemos, poderiam ser solucionados pela Inteligência Artificial a serviço do ser humano? Ou a capacidade dos cientistas, acadêmicos e centros de pesquisa corporativos, poderiam trazer soluções? O desafio está, sobretudo, no fato das lideranças ainda estarem se letrando sobre o tema e seu caráter inadiável.
Na Logística, a construção de um ambiente cooperativo entre embarcadores/contratantes do transporte de carga e operadores de transporte é a chave no processo de descarbonização: com a disponibilização de planos de descarbonização pelos operadores logísticos, e para os embarcadores a abertura para rever seus processos atuais.
Não existem soluções fáceis, pois se existissem já tínhamos resolvido o problema. Não há recursos para uma transformação tecnológica rápida (caminhões a diesel para elétricos ou híbridos), então as empresas precisam inovar, cooperar, serem vulneráveis para pedir ajuda, integrar todos stakeholders na solução do problema, ter humidade para aprenderem e serem arrojadas para avançarem.
Gosto de uma proposta da Osklen que dei uma pequena incrementada:
ASAP*3
As Sustainable as Possible;
As Soon as Possible;
As Simple as Possible.
“Nem tudo que é encarado, pode ser mudado, mas nada poderá ser mudado se não for encarado” – James Baldwin
“Os Negócios são uma forma organizada, escalável, gratificante e autossustentável para os serem humanos se desenvolverem e servirem aos outros, sem causar danos no processo” – Raj Sisodia
Se você não preparar o seu futuro, hoje, terá que encarar o futuro que vier.
Hugo Bethlem
Cofundador e Presidente do Instituto Capitalismo Consciente Brasil, Conselheiro de Empresas e ONGs, Advisor em ESG, palestrante e membro do Comite de ESG da Abralog.