Por Prof. Manoel de Andrade e Silva Reis – FGV
A logística tem se tornado cada vez mais um fator estratégico para o bom desempenho dos negócios de um país, de sua competitividade internacional e da competividade das organizações.
Sua evolução depende de fatores essenciais como a infraestrutura física de transportes do país – essencial para a utilização adequada e equilibrada dos diversos modais de transporte -, bom comportamento de sua economia, redução da burocracia, custo dos combustíveis, racionalização e redução dos impostos, simplificação dos controles nas fronteiras interestaduais, além de políticas ambientais, sociais e de governança (ESG).
A implementação efetiva de muitos desses elementos está intrinsecamente ligada às decisões tomadas pelos três níveis de governo, pelo Congresso Nacional e pelo Judiciário. Nesse contexto, é imperativo que o setor privado intervenha de maneira proativa e organizada, buscando facilitar a concretização dessas medidas em prazos apropriados.
Em termos de infraestrutura física de transportes, o Brasil ocupa no mundo uma posição não condizente com seu porte como país, o que é um contrassenso, tendo em vista que nossa economia tem, nos últimos anos, se situado entre a 8ª e a 10ª economia do mundo e a infraestrutura de transportes do país situa-se no entorno da 70ª posição.
A matriz brasileira de transporte de cargas conta com a seguinte participação aproximada dos diversos modais de transportes: rodoviário 61%, ferroviário 20%, cabotagem 12% dutoviário 4%, fluvial 2%, aéreo 1%, segundo dados da CNT. Uma alta participação do rodoviário, cuja rede é ainda insuficiente e em grande parte de baixa qualidade.
Em comparação, a matriz de transportes dos Estados Unidos tem: rodoviário 31%, ferroviário 37%, aquaviário 10% e outros 22%. É notável a diferença expressiva com uma grande participação do ferroviário.
No Brasil, a pouca utilização do ferroviário se explica pela baixa disponibilidade de linha, totalizando aproximadamente 30 mil km (excluídas as linhas destinadas ao transporte urbano). Essa restrição está prestes a ser superada com a promulgação da Lei nº 14.273/2021, que agora possibilita às empresas solicitar diretamente ao governo federal autorizações para a construção de ferrovias em todo o país, rompendo com a antiga necessidade de participar exclusivamente de leilões conduzidos pela ANTT.
Fatores direcionadores
Dentro deste contexto, há diversos fatores que podem ser úteis para os profissionais e empresas de logística no Brasil e seus usuários.
- E-Commerce: Atualmente o e-commerce no Brasil tem sido utilizado de forma extensiva, responsável por 42% do comércio online na América Latina. Profissionais do e-commerce e da logística precisam acompanhar a evolução das tendências para melhor escolha nas tomadas de decisão.
- Políticas Ambientais, Sociais e de Governança (ESG): Sigla, em inglês, que significa environmental, social and governance, e corresponde às práticas ambientais, sociais e de governança de uma organização. De forma resumida, a ESG serve como parâmetro para orientar as empresas na aplicação dos critérios ambientais, sociais e de governança corporativa, que podem trazer diversos benefícios para a percepção de valor das empresas operadoras e usuárias de logística. Empresas, governos e pessoas serão crescentemente cobrados para exercer a prática do ESG.
- Logística como Serviço (LaaS – do inglês Logística as a Service): A logística tornou-se uma capacidade vital para as empresas e tem custos elevados, especialmente em virtude das necessidades de investimentos. A terceirização das operações logísticas por usuários, para empresas confiáveis e competentes exige controle, mas permite a rápida atualização dos processos operacionais, praticamente sem investimentos.
- Transporte de Longa Distância e Última Milha: O transporte de longa distância é em geral feito por veículos de maior porte (carretas, trens, embarcações marítimas ou fluviais), buscando reduzir os custos do transporte pelo grande volume transportado. Já o transporte final ao cliente, normalmente designado “última milha”, é realizado por veículos de menor porte, e corresponde a um custo por unidade de carga, em geral superior ao custo unitário do transporte de longa distância.
- Crescimento do Setor de Transportes x Crescimento da Economia: Uma informação importante é que na medida que a economia cresce 1%, o setor de transportes cresce 2%, servindo isso como referência para prestadores de serviço logístico, no tocante à gestão de suas frotas e capacidades logísticas.
- Logística em Tempo Real e Torre de Controle: A principal providência para o bom andamento do processo logístico de uma empresa é aumentar a visibilidade de toda sua cadeia de abastecimento, o que tem sido possível através do conceito de Torre de Controle, já utilizado por diversas organizações. De maneira prática, a torre de controle é uma central de integração que reúne e dá acesso, em tempo real, às informações das operações de uma empresa e permite a visualização e o controle das principais atividades de uma cadeia de abastecimento.
- Logística 4.0: A logística 4.0 é a automação e o uso da tecnologia dentro de todas as etapas que compõem a logística. Com softwares e tecnologias que auxiliam cada parte da cadeia de abastecimento, a logística 4.0 oferece aos profissionais dessa área a chance de automatizar seus processos e economizar tanto recursos físicos quanto financeiros.
- SLA (Service Level Agreement) – Acordo de Nível de Serviço: O Acordo de Nível de Serviço pode ser definido como um documento responsável por formalizar termos de serviço e, quando bem aplicado, garante não só uma operação mais efetiva, como também um relacionamento mais saudável com clientes e fornecedores da sua empresa. O SLA transmite segurança na execução dos acordos e serviços, tanto para o contratante quanto para o contratado, garantindo a transparência e o cumprimento de tudo que foi acordado.
- Gestão de Riscos: O tema riscos vem ganhando importância crescente, tendo em vista que gestores são cada vez mais pressionados para melhorar a eficiência de suas cadeias de abastecimento, fazendo os materiais fluírem de forma rápida e a baixo custo, o que induz a criação de novos métodos que tendem a aumentar a vulnerabilidade das cadeias. De maneira geral, esses gestores têm que lidar constantemente com atrasos em entregas, acréscimos de preços, incidentes internos nas organizações, acidentes em rodovias e congestionamentos de tráfego, desastres naturais e uma série de outras ocorrências. Muitos eventos podem afetar o desempenho das cadeias de abastecimento longas e complexas e esses eventos inesperados caracterizam os riscos. A Gestão de Riscos na Cadeia de Abastecimento é a função responsável por fazer sua gestão.
- Resiliência: Resiliência é a capacidade de reagir adequadamente em situações difíceis ou de fontes significativas de estresse. Na prática, significa que diante de uma adversidade, a pessoa utiliza sua força interior para se recuperar com leveza e sabedoria. Este conceito é essencial na gestão empresarial moderna, que traz no dia a dia momentos de tensão de várias origens.
Em suma, a gestão logística contemporânea revela-se como uma trama intricada, onde fatores como infraestrutura, economia, ESG, tecnologia e resiliência se entrelaçam para moldar o cenário. A resiliência, inerente à natureza do setor, assume papel crucial em meio a adversidades. Que este panorama inspire reflexões e ações, impulsionando a busca por soluções inovadoras que promovam a eficiência e a sustentabilidade na gestão logística, contribuindo para o progresso econômico e social.
Espero que este conjunto de conceitos em logística e fatores direcionadores sejam uma inspiração para você, leitor.
Quem é Manoel Reis
Atua na FGV Projetos, uma entidade da Fundação Getúlio Vargas que presta consultoria a empresas e governos, nas mais diversas áreas. Manoel Reis é consultor e professor de Logística e Supply Chain. Engenheiro Naval e Mestre pela Escola Politécnica USP e Ph.D pelo MIT.